ENTRA
VINNY APPICE
Durante a
turnê, mais uma mudança drástica na carreira da banda: Bill Ward não resiste
aos problemas alcoólicos e à maratona de shows e pede demissão para cuidar da
saúde em 19 de agosto, além de tentar uma reaproximação com seu velho amigo,
Ozzy.
Isso faz
a banda cancelar duas semanas de shows e correr atrás de um substituto. O
escolhido é o irmão caçula do experiente baterista Carmine Appice, do Cactus,
Vincent ou Vinny Appice. Um jovem prodígio das baquetas que, apenas com 16
anos, em 1974, conseguiu impressionar John Lennon e apareceu em algumas de suas
gravações, antes de tocar com Rick Derringer e a banda Axis.
Através
de indicações de conhecidos da gravadora, Vinny fez um rápido teste, foi
aprovado, mas precisou comprar um kit novo de bateria, pois o seu era muito
pequeno para o que a banda exigia. Tony Iommi conta que a primeira vez que
Vinny montou sua bateria para um show, parecia um brinquedo. O primeiro show de
Vinny Appice com o Black Sabbath ocorre já no dia 31 de agosto, em
Honolulu, no Havaí.
Em nove
de outubro de 1980, mais um fato polêmico: durante uma apresentação em
Milwaukee, logo na introdução de baixo de N.I.B, alguém da platéia
atirou uma garrafa de cerveja no rosto de Geezer Butler. A garrafa estraçalhou
e Geezer sofreu cortes profundos. Imediatamente, Dio repudia o ato, o Black
Sabbath
para de
tocar e sai do palco dando início a um tumulto junto ao público.
O
resultado: oito policiais feridos, além de vários fãs e, claro, Geezer. Outras
160 pessoas foram presas na confusão e o ginásio onde a banda tocava, Mecca
Arena, ficou completamente destruído. Áudios e vídeos da confusão podem ser
facilmente localizados na Internet.
A banda
excursiona até Fevereiro de 1981, quando faz o último show da turnê e tira
merecidas férias para recarregar as baterias antes de se preparar para a
gravação de um novo álbum.
Se o Heaven
and Hell já estava ou não escrito quando Ronnie entrou na banda, talvez
nunca saibamos, mas o que importa é que o primeiro álbum do Black Sabbath
que todo mundo tem certeza que foi 100% escrito com a colaboração de Ronnie
James Dio foi o Mob Rules.
MOB RULES
Os
trabalhos de composição começaram em abril de 1981 e seria também a primeira
vez que a banda entraria em estúdio com outro baterista no lugar de Bill Ward.
Desta vez quem não estava satisfeito com a troca de um integrante era Geezer.
Sentindo falta do velho amigo das baquetas, ele chegou a declarar em
entrevistas que Vinny tinha um estilo muito “funkeado”, mas era uma pessoa com
quem ele gostava de tocar também, apesar do estranhamento.
Todo o
trabalho foi conduzido no famoso Record Plant em Los Angeles, sob a
batuta, mais uma vez, do mestre Martin Birch, que – ao mesmo tempo em que
produzia o The Mob Rules - tomava conta de outro grande futuro disco, um
tal The Number Of The Beast. Pouca responsabilidade na mão do cara de uma
cacetada só, hein?
Para o
novo álbum, Ronnie continuava evitando tocar em seus assuntos preferidos, tais
como reis, magos e dragões, e seguiria compondo na linha que se espera do Sabbath,
ou seja, reflexões filosóficas sobre a vida.
O
principal trabalho criativo continuava a cargo de Tony Iommi elaborando riffs
e Dio criando uma letra ou tendo alguma idéia a partir da sensação que aquele
trecho lhe causava. Geezer e Vinny tinham voz ativa apenas na aprovação ou não
dos riffs que seriam utilizados em cada música, mas todas as letras
foram escritas pelo vocalista, incluindo a estranha Country Girl, que
depois acabou “inspirando” um clássico do Twisted Sister. Tente
adivinhar qual é assistindo ao vídeo abaixo.
O álbum
também tinha a misteriosa música instrumental E5150, feita toda com
sintetizadores e com a guitarra de Tony, no melhor estilo dos filmes futuristas
que pipocavam naqueles idos dos saudosos anos 80. Se você não sabe o que
significa o “código” do nome da composição, chegou a hora de ter este problema
resolvido: é apenas a palavra “Evil” (malvado), a partir do E e
considerando que as letras seguintes são números romanos e traduzindo-os para
os números do nosso dia a dia. A idéia foi de Geezer Butler para criar uma aura
de mistério e despertar a curiosidade em você, caro leitor. O que o baixista
não previa era que teríamos a internet em alguns anos para resolver esses
mistérios. Ainda me lembro quando debatia o significado disso com alguns amigos
nos anos 90.
Oficialmente,
Mob Rules chega às lojas em quatro de novembro de 1981, cercado de
grandes expectativas, mas sem conseguir repetir o feito fantástico do Heaven
and Hell no ano anterior. O Black Sabbath seguia como uma banda
grande e influente; A diferença é que agora enfrentava concorrência pesada de
nomes como Iron Maiden e Judas Priest, além de outros emergentes
da NWOBHM (New Wave Of British Heavy Metal), que se encontrava no
auge.
O álbum
conseguiu ganhar o disco de prata no Reino Unido e ouro nos EUA e Canadá, mas
foi só (o Heaven and Hell conquista prêmios até hoje). Hoje em dia,
apesar de contar com grandes composições, não é lembrado com unanimidade pelos
fãs, mas tem seu charme e importância ao ouvirmos Falling Off The Edge Of
The World, The Mob Rules e The Sign Of The Southern Cross.
TURNÊ E
IMPREVISTOS
A turnê
de divulgação começa uma semana depois do lançamento no Canadá e passa na
sequência por EUA, Inglaterra e volta aos EUA e Canadá no ano seguinte para
mais uma batelada de apresentações em um ritmo pesado de quase um show por dia
entre novembro de 1981 e agosto de 1982.
Apesar da
boa repercussão das apresentações, o clima interno já não era o mesmo e uma
divisão bastante clara estava se formando nos bastidores dos shows: de um lado,
os fundadores do Black Sabbath, Tony Iommi e Geezer Butler, comemorando
o retorno às paradas de sucesso, mas firmes em manter a identidade da banda.
Do outro
lado, Ronnie James Dio e o seu agora grande amigo (e futuro parceiro musical em
muitas oportunidades), Vinny Appice, comprometidos em manter a tradição Sabbathiana,
mas também tentando trazer suas próprias influências das bandas por onde
passaram, até mesmo para fazer frente à concorrência que levava o Heavy Metal a
outros níveis.
A rotina
pesada de shows e alguns problemas envolvendo cancelamentos de datas em cima da
hora por conta de fortes tempestades de neves que assolaram os EUA em janeiro
de 1982, ajudaram a criar um buraco entre as duas duplas. Eles mal se falavam,
andavam em ônibus separados e sempre estavam mais preocupados com as decisões comerciais
do que em saber se o outro estava bem.
Durante a
turnê, muitas outras coisas aconteceram além da neve: Vinny se queimou com gelo
seco, Tony Iommi teve um sério problema de intoxicação alimentar e desmaiou no
meio de uma apresentação e, ainda dentro do azar envolvendo a banda, o teto de
uma arena em Cardiff aonde eles iriam se apresentar desabou pouco antes do
início, mas – por sorte – sem deixar feridos.
Além
disso, com a volta ao topo no ano anterior, todos os fantasmas das tentações
que cercam uma grande banda de Rock voltaram a incomodar os integrantes:
drogas, bebidas e festas. Segundo Dio, esse foi o fator que começou a minar as
confianças alheias e acabou se tornando o início do fim conforme veremos a
seguir.
LIVE EVIL
No começo
de 1982, durante a turnê do Mob Rules, mesmo com o racha entre antigos e
novos integrantes, a banda já estava bastante entrosada nos palcos. Por isso,
os caras achavam que era um bom momento para lançamento de um primeiro álbum ao
vivo oficial do Black Sabbath, até para apagar a péssima impressão
deixada pelo picareta Live At Last, que vendeu muito bem, mesmo usando
toda uma campanha de marketing enganosa vinda de terceiros. Sem contar que o
desempenho excepcional de Ronnie James Dio ao vivo não tinha comparação com o
que Ozzy vinha fazendo nos últimos anos.
Oficialmente, a banda gravou quatro apresentações nos EUA de maneira profissional, entre abril e maio, nas cidades de Seattle, Dallas e San Antonio, de onde sairiam as músicas que entrariam no disco. Em uma entrevista alguns anos depois, Dio disse que o show realizado em 18 de abril em Fresno, também foi utilizado na edição final como um complemento para partes que não estavam legais aqui e ali.
Oficialmente, a banda gravou quatro apresentações nos EUA de maneira profissional, entre abril e maio, nas cidades de Seattle, Dallas e San Antonio, de onde sairiam as músicas que entrariam no disco. Em uma entrevista alguns anos depois, Dio disse que o show realizado em 18 de abril em Fresno, também foi utilizado na edição final como um complemento para partes que não estavam legais aqui e ali.
Ao
contrário do ocorrido com o Rainbow, uma apresentação normal do Black
Sabbath não tinha tantas firulas e solos individuais longos, o que
facilitou a compilação das músicas exatamente na ordem em que foram tocadas,
sem edições, com exceção de algumas pausas para regulagem de equipamentos e
intervalos pro bis.
A turnê
acaba oficialmente em 31 de agosto com um show em Hoffman, e a banda
imediatamente foi ao estúdio em Los Angeles para produção e mixagem do material
ao vivo gravado meses atrás.
Aí os
problemas de relacionamento entre a velha e a nova guarda começaram a aparecer
com maior intensidade e o barril de pólvora explodiu. O que de fato aconteceu é
que Tony Iommi e Geezer Butler trabalhavam na mixagem do álbum durante o dia
com um engenheiro de som, enquanto Dio e Vinny só apareciam no estúdio à noite
para trabalhar com o mesmo engenheiro. Ambos os lados não se falavam e começou
uma clara falta de comunicação entre as partes, enlouquecendo o pobre
engenheiro que durante o dia tinha que configurar os programas de uma maneira
para atender 50% da banda, mas mudava tudo à noite para atender os outros 50%.
Tony
tinha certeza que Dio estava sabotando a mixagem das gravações da guitarra e do
baixo, abaixando o volume dos instrumentos para dar destaque à sua voz,
enquanto o vocalista tinha certeza que estava sendo sacaneado com a guitarra
encobrindo os seus momentos.
O que
hoje parece algo absolutamente bobo, que uma simples conversa de bar pode
resolver em 10 minutos, acabou decretando o fim de uma das maiores formações da
história do Heavy Metal, pelo menos por alguns anos.
Nas
palavras de Tony em uma entrevista para a Spinner, “Ainda por cima, o
engenheiro que estava trabalhando conosco estava bebendo mais e mais durante
essas sessões de gravação e ficando cada vez mais irritado. Um dia, Geezer e eu
dissemos, ‘Está soando diferente de como deixamos ontem à noite’ – e isso
continuou por semanas – e o engenheiro disse, ‘Não aguento mais isso! Ronnie
veio e ajustou tudo e então vêm vocês e ajustam do seu modo e daí ele vem e
ajusta de novo e eu não sei o que fazer!’. E então nós dissemos, ‘está
brincando?’ e a banda se separou por causa disso! Claro, tudo era boato e não
acredito realmente agora mas nós acreditamos na época”.
Cansado,
Ronnie repudiava veementemente as acusações de Tony Iommi e culpa o engenheiro
de som e seus problemas alcoólicos por fazer declarações infundadas. Sem
chegarem a um consenso, Dio anuncia o desligamento da banda, levando Vinny
Appice consigo, em outubro de 1982.
Recentemente,
Vinny deu a opinião mais inteligente possível sobre toda a situação vivida
naquele ano: “Se todo mundo aparecesse no estúdio ao mesmo tempo, tudo poderia
ter sido resolvido facilmente”. Sábias palavras! Outra coisa que precisa ser
levada em consideração foi dita por Tony na mesma entrevista: a banda vinha do
final de uma turnê longa e cansativa direto para o estúdio mixar mais um álbum.
Todos estavam cansados e com os nervos à flor da pele, então não tinha como a
coisa funcionar mesmo.
No final
das contas, o Live Evil terminou de ser produzido por Tony Iommi e
Geezer Butler sozinhos e foi lançado oficialmente em 18 de janeiro de 1983,
quando Ronnie e Vinny já se preparavam para outro grandioso projeto. Como
retaliação pela saída da banda, o nome dos dois aparece apenas como “convidados
especiais” no encarte, sem maiores destaques. E ainda cortaram o James, de
Ronnie James Dio.
Uma
história interessante envolve o título, que pode ser lido de trás para frente,
e ainda assim continuar exatamente igual. Experimente: Live Evil.
O álbum
foi lançado sem alarde, afinal, a banda acabava de perder dois integrantes
importantes (bom, pelo menos um era fundamental) e todos sabiam que o que
estava registrado ali já não era mais o que os fãs poderiam encontrar em
apresentações futuras. Analisando friamente hoje, é um bom álbum ao vivo, mas a
produção – de fato – deixa a desejar com sons abafados demais, curiosamente na
guitarra e baixo que puderam ser mexidas e remexidas após a saída de Dio da
banda. A capa era o que mais chamava a atenção, com desenhos lembrando os nomes
de todas as músicas representadas ali dentro.
O
FANTASMA DE OZZY
Uma
pessoa nada feliz com o lançamento do primeiro álbum ao vivo do Black
Sabbath era um certo senhor Ozzy Osbourne que, praticamente ao mesmo tempo,
colocava no mercado outro trabalho ao vivo tocando apenas músicas da sua
ex-banda, o hoje cult, Speak Of The Devil.
Coincidência?
Talvez, mas Ozzy não deixou barato nas declarações para a imprensa no final de
1982: “aqueles bundões esperam 15 anos para lançar um álbum ao vivo e então
eles lançam exatamente ao mesmo tempo em que lanço o meu”. Tony rebatia dizendo
que quem ganhava com toda a história era o público que teria dois grandes
álbuns ao vivo para comprar, mas Ozzy não sossegava: “Eu não tenho dúvidas
sobre quem vai terminar no topo! Aqueles idiotas! Eu vou admitir que Dio é um
vocalista melhor do que eu, mas ninguém pode negar que sou um melhor frontman”.
No fim
das contas – quem diria? – Ozzy ganhou mesmo a briga e seu álbum é lembrado
como um dos melhores trabalhos ao vivo de todos os tempos.
Como se
já não bastassem os problemas com o primeiro vocalista, o segundo do Black
Sabbath, agora ex, também não ficou nada feliz com sua saída e as acusações
de sabotagem. Nos anos seguintes, Tony Iommi e Dio viveram trocando farpas
através da imprensa sobre a mixagem do Live Evil. Ronnie chegou a
declarar que sua saída da banda também teve a ver com o fato do guitarrista não
atender bem os fãs após os shows e toda parte de relacionamento com a imprensa
ter ficado em suas costas.
Com o
tempo, as declarações foram ganhando um ar mais conciliador (ah, o mundo
capitalista!) e ambas as partes eventualmente voltaram a trabalhar juntas, mas
este é um assunto para um futuro capítulo. Por ora, o que nos importa é que
Ronnie James Dio, finalmente, preparava a estréia de sua carreira solo e, mais
uma vez, estava prestes a mudar a maneira como o mundo via o Heavy Metal. E
tudo isso levaria apenas cinco meses...
Logo que
saiu do Black Sabbath no final de 1982, Ronnie James Dio finalmente
poderia colocar em prática a idéia de liderar uma banda com as suas próprias
características. Lembrando que o pensamento não era novo, já que quando saiu do
Rainbow, em 1978, o objetivo seria o mesmo, mas aí veio Tony Iommi e o
resto você já acompanhou.
A nova
empreitada, apesar do nome Dio, não seria exatamente um projeto solo.
Dio nunca chamou seu próprio grupo disso, pois a ideia era ser uma banda mesmo,
com espaço para todos. Os primeiros integrantes já estavam escolhidos: o
próprio vocalista e Vinny Appice, o baterista que nos últimos anos de Sabbath
acabou se tornando um grande amigo e parceiro musical.
Para
aproveitar a explosão do Heavy Metal britânico, Dio e Appice viajam à terra da
rainha em novembro de 1982 e passam três noites revirando os principais clubes
de Londres atrás de um guitarrista e um baixista para o projeto. Durante os
dias, os dois se trancavam em um estúdio para escrever o material da nova banda
e definir direcionamento, conceitos de artes e outras burocracias.
Sem
sucesso nessa primeira caçada noturna, Ronnie se lembra de Jimmy Bain, o
baixista que o acompanhou na melhor fase do Rainbow. Bain, apesar de
sofrer com problemas relacionados ao alcoolismo, era um músico extremamente
talentoso, que poderia ajudá-lo com partes relacionadas às harmonias e ainda
quebrava um bom galho tocando teclados.
Desde que fora demitido do Rainbow, Jimmy Bain formou sua própria banda – Wild Horses – com o guitarrista Brian Robertson, ex-Thin Lizzy, mas não demorou a aceitar o convite do velho amigo em integrar um novo projeto com bastante potencial.
Desde que fora demitido do Rainbow, Jimmy Bain formou sua própria banda – Wild Horses – com o guitarrista Brian Robertson, ex-Thin Lizzy, mas não demorou a aceitar o convite do velho amigo em integrar um novo projeto com bastante potencial.
FIM DA TERCEIRA PARTE
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