Ronald James Padavona (Portsmouth, 10 de julho de 1942 — Houston, 16 de maio de 2010)
DIO
THE VEGAS KINGS
Em paralelo ao trompete, o jovem toma conhecimento da primeira onda do Rock ‘n’ Roll assistindo apresentações de Elvis Presley e Jerry Lee Lewis na TV e começa a tomar gosto pela coisa.
Aproveitando o conhecimento em teoria musical dos anos de estudo como trompetista, Ronnie passa a estudar também contrabaixo em 1956 para formar, finalmente, uma banda de Rock com alguns amigos da Cortland High School.
A banda se chamaria The Vegas Kings e contava com Billy DeWolfe nos vocais, Ronnie no baixo, Nick Pantas nas guitarras, Jack Musci no saxofone (eram os anos 50!) e Tom Rogers na bateria.
Pantas se tornaria o primeiro parceiro musical de Dio e o acompanharia em seus projetos musicais até 1970, enquanto Rogers os acompanhou até 1967.
Voltando aos Vegas Kings, a banda conseguiu algum destaque na cena local de Cortland e gravou um single de sete polegadas com 2 músicas: Conquest no lado A e Lover no B.
Neste disquinho, além do baixo, Ronnie faz a sua estréia cantando vocais de apoio em Lover e ainda viveria um momento nostálgico tocando trompete em Conquest.
O disco original é raríssimo de se achar, mas volta e meia faz uma aparição relâmpago em algum leilão online. Com um pouco de paciência, você consegue encontrar as duas músicas em páginas e fóruns por aí. Vale apenas como curiosidade, pois os números são Rockabilly’s bem genéricos.
RONNIE & THE RED CAPS
Em 1958, a banda chuta Billy e Jack para fora e Ronnie assume definitivamente os vocais continuando também com a função de baixista. Com a mudança, o grupo troca de nome para Ronnie & The Rumblers (fato comum na época o vocalista vir “apartado” para chamar a atenção) e segue fazendo shows em pequenos bares e festas do colégio.
No ano seguinte, a banda mudaria novamente para Ronnie & The Red Caps e lança mais um single com duas músicas: An Angel Is Missing e What I’d Say.
Sem atingir repercussão fora de Cortland, Ronnie se formou no colégio em 1960 e ingressou no curso de Farmácia da Universidade de Buffalo onde assistiu aulas por quatro semestres, mas abandonou a faculdade com o apoio dos pais para retomar a carreira musical.
RONNIE DIO & THE PROPHETS
Em 1961, com a mesma formação dos Red Caps, Ronnie adota o apelido “Dio” (Deus em italiano) e lança o Ronnie Dio & The Prophets, que conseguiria uma maior estabilidade durante a explosão do Rock nos anos 60.
Apesar de muitos pensarem que o “Dio” foi adotado conscientemente a partir dos conhecimentos de italiano do cantor e seus familiares, a história não foi bem assim: Ronnie achava seu nome “Ronald James Padavona” comprido demais para uma carreira artística e precisava de algum nome duplo para chamar a atenção. Um dia, folheando uma revista com uma reportagem sobre a máfia italiana, se deparou com um chefão, Giovanni Dioguardi, que usava a alcunha de “Johnny Dio”, e pegou a idéia emprestada. Somente depois de meses já utilizando a nova marca é que ele aprendeu o significado de “Dio” em italiano, quando algumas pessoas vinham perguntar se ele se achava mesmo um Deus, mas aí o lance já tinha pegado e não dava para voltar atrás.
Com o Prophets, e ainda tocando baixo e cantando, Ronnie e a banda lançaram nada menos que nove singles (com duas músicas cada) e um LP completo entre 1961 e 1967.
O primeiro LP da carreira era uma gravação ao vivo de um show realizado em 24 de fevereiro de 1963 em um restaurante de Cortland chamado Domino’s. Não é à toa que o nome escolhido para o discão foi Dio At Domino’s. O repertório contava com quase todas as músicas compostas pela banda (e os grupos anteriores de Ronnie) até então, mais o cover de Great Balls Of Fire de Jerry Lee Lewis.
Foram prensadas apenas 500 cópias do LP original, o que o torna bastante raro nos dias de hoje, mas novamente, as músicas são facilmente encontradas no Youtube com um pouco de paciência.
A carreira do Ronnie Dio & The Prophets não foi marcada pela originalidade, mas serviu para o desenvolvimento do vocalista como compositor e, principalmente, experimentador de novas tendências, introduzindo psicodelia e harmonias mais trabalhadas ao longo dos anos. Dio sempre foi um aficionado por novidades musicais que puxavam o Rock para outros patamares e, sempre que podia, tentava inovar em algum elemento musical.
Em 1967, cansado de apresentações locais em Cortland e sem contar com o apoio de alguns integrantes da banda para ousadias maiores, Ronnie encerra as atividades com os Prophets. Porém, continua com o guitarrista Nick Pantas para a exploração dos novos limites do Rock mais engajado que começava a surgir com nomes como Beatles, The Who, Cream, Byrds, Yardbirds e, principalmente, The Kinks, a grande influência de um certo Tony Iommi, que montava uma banda do outro lado do oceano. Mas essa é uma história para mais tarde.
ELETRIC ELVES
Juntamente com o primo David Feinstein, como segundo guitarrista, e o parceiro de sempre, Nick Pantas, Dio forma o Electric Elves para começar um som mais agressivo, deixando os cabelos crescerem e os ternos de lado. Gravam rapidamente um single com duas músicas bem diferentes de tudo que já haviam feito: Hey, Look Me Over e It Pays To Advertise (só eu acho esse nome de música demais?). Ainda não era o som que você espera, mas já estava mais próximo.
http://www.youtube.com/watch?v=7hJPxIc5ZSI - > Video
Neste meio tempo, Ronnie se casa com uma garota de Cortland, Loretta Berardi, e adotam um bebê, Dan Padavona, o único filho que o músico teria em toda sua vida.
Em meados dos anos 70 foi convidado para cantar no grupo Rainbow do guitarrista Ritchie Blackmore (ex-membro do Deep Purple), no qual participou de quatro álbuns. Após deixar o Rainbow por conta de desentendimento com Blackmore, foi convidado pelo guitarrista Tony Iommi para ocupar o posto de vocalista no Black Sabbath, permanecendo com a banda até 1982.
No mesmo ano forma uma banda própria denominada simplesmente Dio, para em 1983 lançar o álbum intitulado Holy Diver. Deste participaram também o baterista Vinny Appice, que tinha acompanhado Dio na saida do Black Sabbath, seu antigo companheiro do Rainbow, o baixista Jimmy Bain, e o guitarrista Vivian Campbell (posteriormente no Def Leppard). Holy Diver foi muito bem aceito e deixou clássicos como a faixa-título, "Stand Up and Shout", "Don’t Talk to Strangers" e o hit "Rainbow in the Dark". Agora vamos voltar a dar uma esmiusada na história...
ELF
Novamente vivendo a síndrome da mudança de nome para simplificar as coisas, a banda muda para The Elves em 1969 e apenas Elf, em 1970, lançando mais dois singles nesse período e conseguindo conquistar certo reconhecimento na costa leste dos EUA.
Ainda em 1970, uma tragédia por pouco não encerra prematuramente a carreira de Ronnie. Em 12 de fevereiro, a banda voltava de um show quando a van que os levava perde o controle e capota matando instantaneamente o principal – até então – parceiro musical de Dio, Nick Pantas, e ferindo os demais integrantes.
Após um período de luto que durou quase o ano inteiro e muitas discussões sobre o que fazer, Dio e os demais músicos resolvem seguir em frente, mas sem contratar um substituto para o lugar do amigo, cabendo a David a tarefa de único guitarrista.
O ano de 1971 serviu para a banda compor mais músicas e sair em turnê por toda costa leste e centro dos EUA. O Elf começava a ganhar uma boa reputação nos shows, onde apresentavam material próprio, mas sempre encerravam as apresentações com covers fielmente reproduzidos de Aqualung (Jethro Tull), Black Dog (Led Zeppelin) e War Pigs (Black Sabbath).
Com a fama por estas apresentações, a banda lançou um álbum ao vivo de maneira independente, o Live At The Bank, que chegou a um relativo sucesso no underground, mas nunca foi reimpresso. O álbum em si é muito difícil de ser encontrado, porém circulam pela internet vários bootlegs de apresentações da época, inclusive com os covers citados no parágrafo anterior.
RECONHECIMENTO
Dio começava a ser finalmente reconhecido e algumas grandes gravadoras chamaram a banda para testes e audições visando o lançamento do primeiro álbum completo de inéditas. Em janeiro de 1972, durante uma audição na Columbia Records, a banda encontrou Roger Glover e Ian Paice, respectivamente baixista e baterista do Deep Purple, que tinham acabado de fundar um selo, o Purple Records, e buscavam artistas para destacar.
A empatia entre Ronnie e os dois músicos, já bastante conhecidos, foi imediata, e o Elf assinava seu primeiro grande contrato com uma gravadora. O primeiro álbum do grupo, auto intitulado, foi gravado entre abril e julho de 1972, em Atlanta, e produzido pelos próprios Glover e Paice. O disco foi lançado em agosto.
O som deste primeiro disco era uma boa mistura das bandas de Hard Rock que pipocavam nos EUA e Inglaterra. O instrumental era bastante simples, mas os vocais característicos de Dio já se destacavam.
Imediatamente após o lançamento, a banda foi convidada a abrir os shows do Deep Purple na perna norte-americana da turnê mundial, entre agosto e novembro de 1972. Foi aí que Ronnie conheceu seu futuro parceiro, o famoso guitarrista Ritchie Blackmore, então no Purple.
A VIDA NA ESTRADA
No começo de 1973, assustado com o princípio de sucesso e a nova vida na estrada, David Feinstein sai da banda alegando diferenças musicais. Steve Edwards foi o novo guitarrista contratado. Simultaneamente, Dio abandona de vez o baixo para se concentrar apenas nos vocais. O baixista Craig Gruber (futuro Gary Moore Band) assume a função.
Em julho, já bem conhecidos nos EUA, assinam com a MGM Records para um segundo álbum, mas continuam com a Purple Records para lançamentos na Europa. O ELF viaja para a Inglaterra em janeiro de 1974 e entram em estúdio, novamente com a produção de Roger Glover. O segundo álbum, Carolina County Ball, foi lançado em abril. Nos EUA, saiu com o nome L.A / 59 e com uma capa totalmente diferente. Ninguém sabe o porquê desta mudança. De qualquer forma, a banda sai novamente como abertura para o Deep Purple nos dois meses seguintes, desta vez na terra natal dos ingleses.
Ainda em maio, Ronnie Dio canta em três faixas e escreve outras duas do primeiro álbum solo de Roger Glover, The Butterfly Ball. Como curiosidade, quem também participa deste disco é Les Binks (que seria o baterista do Judas Priest na maior parte dos anos 70), Glenn Hughes e David Coverdale (que já estava no próprio Purple), entre outros.
Voltando aos Estados Unidos em julho de 1974, o Elf acompanha o Deep Purple em toda sua turnê por lá, e quem também participa de alguns dos shows é uma jovem banda, ainda bem crua, chamada Aerosmith.
SEPARAÇÃO DO DEEP PURPLE
Em setembro, a história de Ronnie daria um novo salto enquanto o Deep Purple se encontrava em estúdio gravando o Stormbringer. O guitarrista Ritchie Blackmore, descontente com os novos caminhos, que considerava muito melódicos e românticos, com muito funk e soul, tenta resgatar a alma pesada do Rock e pede aos demais integrantes que gravem o cover de Black Sheep Of The Family do Quartermass, uma banda inglesa de Rock Progressivo.
Com a negativa unânime do Purple, Blackmore terminou de gravar suas partes no álbum e imediatamente contatou o Elf para a gravação da música como single de seu primeiro trabalho solo.
A admiração era recíproca e verdadeira entre Elf e Blackmore e ambos foram para o estúdio registrar o tal cover. O resultado nunca chegou a ser lançado comercialmente (a versão presente no primeiro álbum do Rainbow foi regravada), mas Ritchie ficou tão feliz que logo anunciou seu desligamento do Deep Purple para formar uma nova banda com Ronnie Dio e seus colegas de Elf.
O acordo para o novo grupo foi definitivamente selado em janeiro de 1975, no Rainbow Bar & Grill em Beverly Hills, Califórnia. Em homenagem ao momento e ao lugar, Ritchie batizou a banda como Ritchie Blackmore’s Rainbow, mas esta é uma história para o próximo capítulo deste especial.
Logo que foi anunciado o nome do novo projeto: Ritchie Blackmore´s Rainbow, Craig Gruber, Gary Driscoll e Mickey Lee torceram o nariz pelo fato do guitarrista estar destacado dos demais. Ronnie explicou que, até aquele momento, o nome de Blackmore era o único conhecido no mercado e isso serviria para chamar a atenção do público nas lojas e shows.
RITCHIE BLACKMORE´S RAINBOW
Todos os antigos músicos do Elf que participariam do novo projeto se mudam da Costa Leste para a Oeste dos EUA e os trabalhos seguem a todo vapor na composição do novo material.
Para a produção deste primeiro álbum, Ritchie Blackmore chama Martin Birch, que já havia trabalhado em todos os álbuns clássicos do Deep Purple como engenheiro de som e faria ainda mais história na década de 80 produzindo tudo que o Iron Maiden lançou entre o Killers e o Fear of the Dark.
Em estúdio, Ritchie parecia um cara simples e amigável. De cara, marcou uma reunião entre todos e conversou como gostaria que eles trabalhassem normalmente, com a interação dos tempos de Elf e ele se encarregava de levar sua veia Deep Purple à banda, com uma ou outra influência. A idéia que todos os músicos tinham, inclusive Dio, é que gravariam um novo álbum com a participação especial de Blackmore.
Se o negócio fizesse sucesso, pensariam no que fazer. Se não tivesse repercussão, ambas as partes seguiriam suas vidas normalmente.
A primeira música criada em conjunto por Ronnie e Ritchie foi Sixteenth Century Greensleeves, uma típica composição dos tempos de Elf, com solos alucinados de Blackmore se destacando aqui e ali.
O repertório escolhido para o disco incluía ainda dois covers: a já falada na parte anterior, Black Sheep Of The Family do Quartermass e a versão instrumental de Still I´m Sad, dos Yardbirds.
O álbum foi gravado em apenas um mês, entre fevereiro e março de 1975, chegando às lojas em julho. A repercussão foi mediana, mas esperada para um disco de Ritchie Blackmore com vários músicos mundialmente desconhecidos. Man On The Silver Mountain foi a única composição que ganhou certa projeção nas rádios dos EUA.
Foi neste álbum que Ronnie passou a assinar seu nome como Ronnie James Dio a pedido de Blackmore. O guitarrista achava que Ronnie Dio não soava legal e perguntou por que o vocalista não adotava também o “James” de seu segundo nome. A sugestão foi aceita e não mudou mais.
Com o primeiro álbum do Rainbow, Dio também começou uma tradição que se perpetuaria por toda sua carreira: contar historinhas! O Rainbow foi a primeira banda onde ele pôde desenvolver seu trabalho de compor letras baseadas em fantasias medievais que influenciaram tanta gente no futuro, especialmente no Heavy Metal. E o mais legal: sem ser ridicularizado, afinal Blackmore também adorava esta temática. Até meados dos anos 70, as bandas falavam sobre amor, guerra, sentimentos, mas poucos musicos desenvolveram esse lado de “contador de histórias” e Ronnie se mostrava um mestre no assunto ao analisarmos músicas como Stargazer, Rainbow Eyes e Light In The Black que viriam nos próximos álbuns.
BLACKMORE: O PODEROSO CHEFÃO
Logo após a gravação, quando se preparavam para uma sequência de shows, Ritchie Blackmore toma a primeira das muitas atitudes que irritariam Ronnie nos anos seguintes. Sem maiores explicações, ele demite toda a banda (todos os ex-Elf), com exceção do vocalista, alegando falta de qualidade técnica dos músicos e incompatibilidade com a sua visão para o futuro do Rainbow.
Inicialmente, a banda seria apenas um projeto, mas quando ele viu que o negócio tinha futuro e os shows começaram a ser marcados, o guitarrista tomou as rédeas para si e, como já era um nome conhecido no meio, adotou a postura de chefe. Ronnie, vindo de um grupo menor e ainda sem grande reputação, aceitou – por ora – aquela situação e concordou que procurassem músicos do nível “exigido” para o próximo álbum que gravariam.
Logo Ritchie se lembrou de um bom baterista que conhecera no show do Jeff Beck Group em 1972 chamado Cozy Powell, e também do baixista Jimmy Bain, da banda Harlot, que conheceram após um concerto em Londres. Para fechar a nova formação, Blackmore oficializou Tony Carey, com quem já estava trabalhando há alguns meses no novo material do Rainbow e em outubro, tínhamos uma nova formação com músicos realmente gabaritados.
Com a nova banda, Blackmore esperava, finalmente, seguir um sonho que perseguia há muito tempo: a união perfeita entre o Rock ‘n’ Roll e a música clássica, com influências de Mozart e Bach. Ronnie e os demais músicos compartilhavam a mesma admiração e o projeto grandioso do Rainbow começava a sair do papel.
O primeiro show do Rainbow aconteceu em Montreal, no Canadá, em 10 de novembro de 1975 com um público de aproximadamente 1.500 sortudos. Até o final do ano, a banda faria 20 shows apenas na América do Norte. Infelizmente, esses primeiros concertos tiveram vários problemas com a estrutura de palco montada e alguns efeitos especiais. Originalmente, a banda teria um arco íris enorme indo de um extremo ao outro do palco e com diversos efeitos controlados por computador. O problema é que se os computadores atuais vivem dando pau, imagine os de 35 anos atrás. Fora que o tamanho do apetrecho era incompatível com a maioria dos palcos e a idéia acabou deixada de lado após poucas apresentações.
Na virada para 1976, Ritchie Blackmore ganhou o prêmio de melhor guitarrista do ano passado pela revista Sounds da Inglaterra e o Rainbow se destacou como a “nova banda com maior potencial”.
RAINBOW RISING
Aproveitando o começo de certa popularidade, os caras entraram em estúdio já em janeiro para começar a trabalhar no material para o segundo álbum. De cara, uma grande mudança: atendendo a um velho sonho de Blackmore, o Rainbow, pela primeira vez, utilizaria uma orquestra completa nas gravações. Foi apenas em uma música: o épico Stargazer, uma das melhores composições da história do Rock e unanimidade entre os músicos das bandas de Metal que surgiriam nas décadas seguintes.
Em termos de virtuosismo, nada podia ser comparado a Stargazer até então. Na letra, Dio nos conta a história de um mago que queria construir uma torre infinita para o céu, mas a ousadia acabou custando a vida dos trabalhadores que eram forçados a ajudá-lo. Originalmente, a música tinha uma introdução de teclado de 6 minutos, além dos 8 e pouco de duração, com várias viradas. A intro não foi para o álbum por falta de espaço no vinil, mas acabou aparecendo nas versões ao vivo.
Para facilitar com os custos da orquestra de Munique, a banda se fixou na cidade alemã para a gravação do álbum, que foi finalizado em apenas um mês, produzido novamente por Martin Birch.
O nome Rising foi escolhido por Blackmore, além da alusão ao arco-íris, para mostrar a ascensão da banda e a empolgação com os trabalhos e a nova formação. Em comum acordo, a banda passou a se chamar apenas Rainbow, sem o destaque para o guitarrista.
Este também foi o começo da história de amor envolvendo o Rainbow e a Alemanha, bastante receptiva ao som com influência de música clássica e temática medieval. Além do álbum de estúdio, a banda registrou diversos concertos ao vivo no país, que foram lançados ao longo dos anos em CDs e DVDs. Não é raro lermos entrevistas de – hoje – músicos alemães famosos de nomes como Helloween, Accept, Gamma Ray e Primal Fear declarando que as apresentações do Rainbow marcaram suas vidas e os levaram a montar suas primeiras bandas no colégio. Por essas e outras, você percebe a importância de Ronnie e Blackmore para a cena como um todo.
Oficialmente, o Rising chega às lojas em 17 de maio de 1976 e supera todas as expectativas com um som complexo, intrincado, mas ainda pesado. O álbum chegou ao 48º lugar no ranking da Billboard e hoje é reconhecido como uma das maiores obras do Rock ‘n’ Roll. Na época, no entanto, foi visto como fruto da prepotência de Blackmore e não ganhou grandes destaques nas revistas especializadas. Por essas e outras que eu sempre falo que um álbum tem de sobreviver ao teste do tempo para se definir como “clássico” e não necessariamente confiar em notas e matérias lançadas pela imprensa. A mídia de 1976 não estava preparada para entender a importância e a influência que este disco teria com futuros músicos.
Satisfeitos com os resultados das primeiras vendas, a banda sai para sua primeira turnê mundial, envolvendo América do Norte, Europa, Japão e Austrália, com 71 datas entre março e dezembro de 1976 e estabelece seu nome, definitivamente, na lista dos gigantes do Hard Rock.
LONG LIVE ROCK ´N´ ROLL
Em janeiro, Jimmy Bain foi substituído por Mark Clarke e a banda tirou férias até maio de 1977. Nesse mês, o Rainbow viaja a Paris, França, para gravar seu próximo álbum de estúdio, que se tornaria o clássico Long Live Rock ‘n’ Roll. Apesar do clima harmonioso entre Ronnie e Ritchie, o ambiente com os demais integrantes não estava nada bom e Blackmore demite o tecladista Tony Carey e o baixista Mark Clarke durante as gravações por “falta de inspiração”. Frustrado com a decisão, novamente unilateral, Dio volta aos EUA, onde tira folga por mais alguns meses enquanto o guitarrista escolhe os novos músicos.
A demissão de Carey, no entanto, tem outra história muito mais curiosa: conta-se que, enquanto eles estavam na França para a gravação do terceiro álbum, Ritchie Blackmore se envolveu intensamente com o ocultismo e costumava varar as madrugadas em rituais que não agradavam os vizinhos do chalé que a banda tinha alugado. Em uma dessas noites, Ritchie entoava cânticos quando algum francês mal humorado atirou um tijolo pela janela do chalé, estilhaçando o vidro e assustando todos os presentes. Após o incidente, Carey pediu demissão alegando que já tinha visto o suficiente.
Com um novo tecladista escolhido, David Stone, mas ainda sem baixista, a banda volta ao estúdio francês apenas em agosto para seguir com as gravações e Ritchie finaliza sozinho as linhas de baixo que faltavam. Para a produção do álbum, chamam novamente Martin Birch, pela primeira vez dividindo os créditos com Ritchie e Ronnie, que começavam a tomar gosto pelo lado mais técnico da produção musical e sempre procuravam palpitar sobre a equalização ideal de cada instrumento. Logo, o Rainbow encontrou um baixista, Bob Daisley, que entrou em agosto de 1977.
Temendo não conseguir cumprir o contrato com a gravadora para o lançamento de um novo álbum ainda em 1977, a banda lança às pressas em julho o ao vivo On Stage, gravado em vários shows no Japão e na Alemanha durante a turnê de 1976. A ordem das músicas foi totalmente alterada e muita coisa ficou de fora para que o material coubesse em dois vinis. Além disso, foram emendados trechos de shows diferentes, conforme a escolha perfeccionista de Ritchie. O responsável pelo árduo trabalho foi novamente Martin Birch.
Fica difícil entender porque a banda não colocou nada de seu segundo e mais importante álbum, Rising (tirando um pequeno trecho de Starstruck no medley com Man On The Silver Mountain), no ao vivo, sendo que tocavam suas músicas nos shows. A explicação, porém, é mais simples do que parece: a versão de Stargazer apresentada nos shows, por exemplo, tinha mais de 15 minutos e seria impossível conseguir emendá-la a uma música curta para fechar algum lado do vinil.
As gravações de Long Live Rock ‘n’ Roll terminam em dezembro de 1977, mas o álbum só foi lançado oficialmente em nove de abril do ano seguinte, chegando ao número 89 do ranking dos mais vendidos da América do Norte. Uma boa posição, mas ainda longe do potencial que se esperava. Novamente, o teste do tempo acabou transformando o disco em clássico obrigatório para os fãs do bom Rock.
Analisando hoje, ele realmente perde forças na comparação com o Rising, por exemplo. Apesar de contar com o hino Long Live Rock ‘n’ Roll, Gates Of Babylon e a conhecida Kill The King (que já era tocada nos shows da banda há alguns anos e até apareceu no On Stage, mas só agora ganhava sua versão de estúdio), mas ainda assim é um excelente trabalho.
O FIM DA TIRANIA
Já em 1978, após mais de um ano sem parar em turnê, com 107 shows ao redor do globo, todos estavam satisfeitos com o desempenho crescente do Rainbow, menos, para variar, Blackmore. Apesar de contar com excelentes músicos, a banda nunca chegou a repetir o sucesso que a ex, Deep Purple, aproveitou no auge, e o guitarrista não se conformava em não estar no topo.
Aí entramos nos já famosos problemas de ego de Ritchie Blackmore. Desde que saiu do Deep Purple, a idéia do músico era criar uma banda que mostrasse a Ian Paice & Cia que sua música era vanguardista, revolucionária e eles nunca conseguiriam repetir o sucesso sem sua ilustre presença. Em parte ele estava certo, o Purple nunca repetiu o mesmo sucesso da fase Machine Head e parou as atividades em 1976, para voltar apenas oito anos depois em uma primeira reunião da formação clássica.
O que Ritchie talvez não tenha percebido é que os tempos também eram outros e solos instrumentais de oito minutos já não chamavam a atenção da nova geração de adolescentes, que preferia algo mais rápido e direto, especialmente na Inglaterra com a explosão do movimento Punk a partir da segunda metade da década de 70. Nos EUA, a banda também conseguia um bom destaque, tocando em grandes festivais e ao lado dos principais nomes do Hard Rock, mas também não tinha tanta fama quanto Blackmore gostaria.
Ainda insistindo em retomar os anos de glória e sem o consentimento dos demais integrantes, Blackmore contratou seu antigo baixista do Purple, Roger Glover (nessas alturas, dedicando-se apenas à carreira de produtor e consultor musical), no final de 1978, como letrista e criador de “hits” para que o Rainbow finalmente decolasse.
O direcionamento de Glover era claro: esqueça temas sobre fantasia medieval e escreva sobre o amor e solidão, um retrocesso se pensarmos no que a banda estava fazendo até então.
Outro ponto também ajudava essa linha de raciocínio de Glover e Blackmore: o single de Long Live Rock ‘n ‘ Roll, lançado em 30 de março de 1978, vendia muito bem tanto nos EUA quanto na Inglaterra, e convenhamos que o estilo da música, uma simples ode ao estilo, sem elfos e dragões, talvez tenha chamado mesmo mais a atenção.
Neste meio tempo, por coincidência ou não, Bob Daisley alega problemas pessoais e sai da banda. Para seu lugar, Blackmore convence Roger Glover a retomar a carreira como baixista, além de acumular as outras funções já mencionadas.
Ao tomar conhecimento da jogada de Ritchie no início de dezembro de 1978, quando a banda se preparava para entrar em estúdio novamente, Dio ficou extremamente decepcionado e resolve pedir demissão. O problema definitivamente não era Roger Glover, pois ambos eram amigos próximos desde a produção do primeiro álbum do Elf. O problema era o fato de Ritchie delegar a Glover a tarefa de escritor das letras. Isso enfureceu o baixinho que, a essa altura, já tinha bagagem suficiente para não engolir esse desrespeito.
Outra contradição chamava a atenção em toda a história: Dio sabia que, em 1973, Ritchie Blackmore tentou demitir Roger Glover do Deep Purple por ter tentado tornar o som dos ingleses mais acessível e agora queria contratá-lo justamente para isso?
Anos mais tarde, outros ex-integrantes do Rainbow afirmaram que também rolou um problema financeiro na época, com Ritchie não dividindo de forma justa entre todos os músicos da banda o pagamento dos cachês das turnês, o que gerou um descontentamento geral.
Picuinhas à parte, Ronnie sempre declarou que seu guitarrista favorito de todos os tempos nunca deixou de ser Ritchie Blackmore e era extremamente grato pela oportunidade de tocar ao lado de um de seus grandes ídolos. Além disso, os anos de Rainbow abriram de vez as portas do mundo para Ronnie James Dio e mais uma grande mudança na carreira do cantor estava prestes a acontecer.
Muitas pessoas dizem que nada acontece por acaso e talvez alguns pequenos fatos na vida de Ronnie James Dio mostrem que esta pode ser – mesmo – uma regra a ser estudada: logo que saiu do Rainbow, a idéia do baixinho seria formar algum projeto com amigos talentosos que passaram por suas ex-bandas e seguir carreira solo. Afinal, sua passagem ao lado de Ritchie Blackmore e a amizade com músicos importantes do Deep Purple poderiam proporcionar certa segurança em tentar algo por conta própria.
Após sua estada na Europa, Dio voltou para os EUA no começo de 1979 e fixou residência em Connecticut e depois em Los Angeles, onde começou a convidar amigos para a formação de seu primeiro projeto particular. Entre muitos telefonemas e trocas de cartas, algumas ligações acabavam perdidas na correria. Uma destas ligações não atendidas tinha do outro lado da linha um guitarrista chamado Tony Iommi.
pelo cortador de gramas. Por sorte, o músico foi socorrido a tempo, teve o dedo reimplantado e nada mais grave aconteceu.
FIM DA 1° PARTE
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ResponderExcluiresta faltando uma parte no final do texto.
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